terça-feira, 26 de agosto de 2008


A NECESSIDADE DE UM PROJETO ECOTURISTICO NO SERTÃO

Por: Audemário Prazeres

Sabemos o quanto à atividade do Turismo Rural, vem sendo de grande importância para o desenvolvimento das cidades do interior, mas precisamente aquelas situadas na zona da mata e agreste do nosso Estado.

Observamos nessa atividade uma promoção da interação do visitante com a cultura local, propiciando através dos roteiros e atividades desenvolvidas a participação da comunidade nos benefícios desse segmento.

Na verdade, o Turismo como um todo, se faz de grandes e pequenas iniciativas atreladas a oportunidades. Quando entramos nessa dimensão de pensamento, estamos lidando com o que chamamos de “potencialidades turísticas”. Quando percebemos esta dimensão, constatamos o quanto o Turismo vive do que é bom, do que é novo, do que se mostra tradicional, de tudo que, por algum motivo, desperta a atenção das pessoas. E o nosso sertão pernambucano, jamais pode se enquadrar excluído desse processo dimensional.

O Turismo se mostra muito capilar, e entre as suas ramificações, nos deparamos com o Ecoturismo, que é uma atividade que, em primeiro lugar, promove o reencontro do homem com a natureza de forma a compreender os ecossistemas que mantêm a vida. As atividades são desenvolvidas através da observação do ambiente natural, através da transmissão de informações e conceitos ou através da simples contemplação da paisagem.

O termo Ecoturismo surgiu na década de 80, mas precisamente em 1987 com a criação da Comissão Técnica Nacional constituída pelo IBAMA e EMBRATUR onde visavam à ordenação das atividades nesse campo. Já em 1994, visando diretrizes de âmbito nacional, conceituaram esse verdadeiro viés no Turismo Rural como: “Ecoturismo é o segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas”.

O Ecoturismo é também entendido como “turismo natural”. Mas não aquele turismo simples de observação, e sim, que venha proporcionar ao viajante um entendimento ecológico do meio ecossistema visitado. Como esse segmento é amplo, quais são os seus objetivos? - Tentando responder a esta pergunta, destaco o seguinte:

  • Promover e desenvolver um turismo de base e ecologicamente sustentável;
  • Estimular investimentos no que se refere à conservação dos recursos naturais e culturais;
  • Estimular a participação das comunidades, gerando renda e instigando o resgate cultural;
  • Desenvolver um planejamento com critérios de baixo impacto ambiental, buscando sempre a consciência de proteção ambiental;

Como desenvolver um planejamento com critérios? – Em busca dessa resposta, temos que esmiuçar alguns Indicadores Ambientais importantes, e para isto, devemos fazer uso de alguns questionamentos básicos relevantes. Tais como:

  • Valores ecológicos:

- Possui recursos naturais representativos?

- Qual o nível de atratividade de cada recurso?

- Em que condições se encontram?

- Quais os atrativos que posso criar?

  • Recursos Naturais:

- Que atrativos poderei desenvolver na flora?

- Qual público que se interessa?

- O que poderei melhorar?

- Com relação à fauna, quais os tipos de animais e aves?

- Quais as facilidades de observação dos espécimes?

- Com relação aos recursos hídricos, existem rios, lagos ou cachoeiras?

- Quais os esportes ou lazer podem desenvolver nestes locais?

  • Frente ao Relevo:

- As grutas, paredões e cavernas são de fácil acesso?

- Quais as atividades paralelas e possíveis que podemos desenvolver nos ambientes?

  • Os indicadores Antrópicos:

- Existem edificações com origens históricas ou culturais?

- O material usado nas edificações desperta curiosidade?

- Na família do homem do campo, o produtor ou empregados alguém produz algum

tipo de artesanato ou outra manifestação cultural?

  • A cultura, costumes e tradição:

- A localidade apresenta uma cultura definida?

- Existem manifestações culturais?

- Existe na localidade uma gastronomia típica? Encontramos mão-de-obra

para a cozinha? E vemos restaurantes típicos?

  • Os indicadores de Percepção:

- A localidade transmite paz e tranqüilidade?

- A paisagem, os recursos naturais, fauna e flora contribuem para o

repouso?

- Há mão-de-obra com qualidade?

Como podemos perceber, um projeto é um conjunto de informações coletadas e processadas que venha a simular uma determinada opção de investimento e testar a sua viabilidade operacional. É justamente no projeto, que se define as características do futuro empreendimento e dos produtos e serviços que serão colocados no mercado, à disposição dos turistas. Com isto, fica mais fácil definirmos um “Roteiro Turístico”. Sua característica mais acentuada é proporcionar ao visitante a garantia de ter optado por uma viagem em que se tenha a tranqüilidade que se deseja (transporte, hospedagem, alimentação, passeios e guias).

Por fim, com um Roteiro definido, temos de ir ao encontro dos ”Canais de Distribuição” do Turismo, que neste caso são as operadoras de turismo, os agentes de viagens, e os diversos meios de mídia, onde destaco a INTERNET como a mais pratica e ao alcance de muitos.

O importante, é que nossos governantes (inclusive aqueles das cidades do interior), tenham a sapiência de que investir em obras, divulgação e capacitação da população com vistas ao Ecoturismo racional, significa melhorias diretas provocadas na própria população antes de atender ao turista.

Particularmente, sou um defensor do desenvolvimento do Ecoturismo no sertão, antes de imaginarmos diretamente o Turismo Rural. Essa minha afirmação vem por base se analisarmos alguns investimentos privados realizados para o fomento do Turismo Rural, onde na maioria das vezes, somam grandes investimentos de capital, principalmente na fase inicial de implantação. E o processo de retorno financeiro desses investimentos se caracteriza de forma lenta (que nos diga aqueles que iniciaram seus investimentos na década de 90 na nossa zona da mata, e que somente recentemente estão “colhendo os louros” com a atividade do Turismo Rural).

O Ecoturismo, ao contrário do Turismo Rural, requer menos investimentos, uma vez que seus praticantes em sua maioria, possuem o hábito de colocarem uma “mochila nas costas” e se alojarem e se alimentarem em locais mais simples. Pois o que eles almejam de fato, é a sensação de aventura e o contato com culturas tradicionais, tendo nas paisagens naturais menos descaracterização possível. Ou seja: um ambiente rústico e mais original possível, onde a ação antrópica (ação do homem), seja menos latente. E esta condição, o nosso sertão possui muitas potencialidades.

Oxalá, que tenhamos um desenvolvimento racional do Ecoturismo no sertão, e que definitivamente desmistifique aquela visão de que o êxodo rural é a única alternativa para a população sertaneja. E com isto, tenhamos um retorno, seja do homem rural ou o urbano, de suas raízes culturais.

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